Por que é tão difícil dedicarmos a nós mesmos aquilo que aprendemos a dedicar ao próximo? O que exatamente torna tão difícil aceitar que merecemos aquilo que oferecemos ao outro? Por que só podemos dar ao próximo, e não a nós mesmos?
É importante iniciar esse texto com esses questionamentos porque a questão é mais difícil do que se possa imaginar, e a razão disso tudo é porque sofremos uma lavagem cerebral desde cedo que nos programa a só estarmos focados no outro, e não em si mesmos.
A sociedade convencionou de classificar "Amor Próprio" como egoísmo, e isso só criou uma série de outras distorções e sofrimentos sem fim. Afinal de contas, se não sabemos amar a nós mesmos, como poderemos aprender a amar o próximo?
Tudo começa no sentir. Se não sentimos, não temos como aprender a amar. Todos nós só podemos dar aquilo que recebemos, aquilo que temos dentro de nós. Se temos rancor, só podemos dar rancor. Se temos tristeza, só podemos dar tristeza. Se temos incompreensão, só podemos dar incompreensão.
Ao contrário do que se pensa, nossa memória é capaz de guardar lembranças que são sentidas, e não raciocinadas. Se algo provém de uma memória afetiva, isso será guardado pelo resto da nossa vida. Nossa memória emocional é algo muito mais eficaz e efetivo, do que nossa memória mental. E no entanto, investe-se muito mais na memória mental, do que na nossa memória afetiva, emocional. Como já foi mostrado anteriormente, não somos estimulados a sentir, mas a ter e querer. Nem mesmo somos estimulados a Ser.
Por isso não sabemos amar. Mesmo nos meios familiares tradicionais, algo já esquecido no tempo, onde tínhamos como base formadora da psique humana um pai e uma mãe como principais referências de comportamento, esses muitas das vezes não sabiam expressar Amor, até porque não tinham essa informação de forma efetiva de seus pais, integrantes de gerações anteriores a sua.
Portanto, estamos falando de algo que se perpetua de geração a geração, passa de pai para filho, vindo dos avós, bisavós, tataravós, etc.
Amor, sentir Amor. Isso é algo relativamente recente. Foi algo introduzido pela geração hippie dos anos 60 e 70, esteve ativo ao longo da década de 80, mas sofreu um trabalho de repressão e descrença à partir da década de 90.
Não se pode amar se não se sente Amor. Pior ainda, não podemos nos amar, a si mesmos, se nossos pais já também não aprenderam a como se amar primeiramente, e nos repreendem quando demonstramos Amor por si próprios. Temos a tendência de buscar o Amor, esse sentimento tão bonito, primeiramente de nossos pais. Mas se eles não se amam, também não sabem amar! E a falta de Amor só se perpetua.
Eventualmente encontramos alguém que expressa Amor, que sabe o que significa amar e conhece esse sentimento, mas nossa reação quando entramos em contato com alguém que expressa isso é de desconfiança, e tendemos a desconfiar e a excluir essa pessoa por não entendermos esse sentimento.
Buscar o Amor nos outros nunca deu certo, porque ninguém, ou muito poucos, sabem verdadeiramente amar. E muitas das vezes esse "amor" vem revestido de cobranças, o que piora ainda mais as coisas. Nunca houve incondicionalidade no amar de ninguém.
Mas então, como aprender a amar? E mais ainda, como amar a si mesmo?
Esse sem dúvida é um enorme desafio a ser empreendido em nossas vidas, e requer muita coragem empreender essa descoberta, já que a sociedade como um todo não valoriza esse sentimento, e nem o sentir, e encara qualquer um que sente Amor como uma pessoa fraca, incapaz, sem poder.
A inversão de valores é enorme e sempre fez parte da nossa sociedade. E enfrentar essa programação sem dúvida requer determinação e vontade de fazer diferente, de definitivamente Ser diferente.
A proposta de desencorajar o Amor a si mesmo teve o propósito de nos desconectarmos de nossos corpos, e toda vez que expressamos esse Amor, como por exemplo através da masturbação, somos duramente recriminados. Como já disse, é necessário ter a coragem de ir contra essa programação para verdadeiramente aprendermos a nos amar, e conseqüentemente sermos capazes de amar o próximo. Afinal de contas, não é essa a máxima de Jesus Cristo? "Amai ao próximo, da mesma forma que amas a si mesmo."
Quando temos a coragem de nos re-conectarmos com nosso corpo, expressando verdadeiro Amor incondicional por ele, da mesma forma como costumamos expressar Amor por um cachorro ou um gato por exemplo, acariciando, beijando, sentindo, também aprendemos a como expressar esse Amor por outra pessoa. Isso deve sempre se originar de dentro de nós mesmos, para que isso possa transbordar e ser expresso ao próximo.
Mas vamos deixar para falar sobre isso uma outra hora.
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